Início COLUNA SAÚDE E SOCIEDADE: PRIVATIZAÇÃO DO PINGO

COLUNA SAÚDE E SOCIEDADE: PRIVATIZAÇÃO DO PINGO

por Ramon Nobre
0 comente

Por Gabriel Liberato – Psicanalista e Professor

Não canso de me surpreender com as vésperas do pingo. Quero comentar duas coisas esse ano: os camarotes e os afters. São festas dentro da festa, uma realidade paralela em forma de condomínio: muitas bandas, dj’s, open bar, open food, open music, open tudo.

Pois bem. Parece haver dois pingos, o real, na rua, e o pasteurizado. O real tem suas adversidades, cheio de probleminhas: risco do furto, banheiro, sol, suor, aperto… Sou entusiasta de que tudo isso faz parte da experiência (no sentido benjaminiano mesmo), as melhores histórias surgem daí.

No pasteurizado é a festa ideal: nada falta, nunca acaba, zero riscos, a música não para, sombra e água fresca, ou seja, é outra coisa, outro lugar, outras bandas, outra experiência. A sensação é que para esses o pingo real não acontece, inclusive, a verdadeira festa nunca chega. É sempre é a que vem depois, na próxima atração, que melhor se realiza nos afters.

Tudo isso para dizer do esvaziamento do pingo, quando a proposta dos camarotes não é mais a oferta de um lugar físico, mas a realização de outro evento que sequestra a própria experiência do pingo. Nesses condomínios os corpos estão no mesmo espaço, mas não se conectam, produzindo um apartheid social e subjetivo.

A pasteurização vem com a promessa de proteger os clientes de todo mau, isolando o que seria a parte ruim da coisa pública… é mais ou menos equivalente, como diria Zizek, a café sem cafeína, cerveja sem álcool… Não fosse a apropriação do espaço público, não haveria problema na privatização da festa, só fico me perguntando o que essas pessoas dizem quando perguntam como foi o pingo? Será que foram mesmo?

VOCÊ PODE GOSTAR

Deixe um comentário